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Corrupção no Chade

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Corrupção no Chade é caracterizada por nepotismo e clientelismo.[1] O Chade recebeu uma pontuação de 21 no Índice de Percepção da Corrupção de 2024 da Transparência Internacional, em uma escala de 0 ("altamente corrupto") a 100 ("muito limpo"). Quando classificado por pontuação, o Chade ficou em 158º lugar entre os 180 países do índice, onde o país classificado em primeiro lugar é considerado o que possui o setor público mais honesto.[2] Para comparação com as pontuações regionais, a pontuação média entre os países da África Subsaariana [Nota 1] foi 33. A maior pontuação na África Subsaariana foi 72 e a menor foi 8.[3] Para comparação com as pontuações globais, a melhor pontuação foi 90 (classificada em 1º lugar), a média foi 43 e a pior foi 8 (classificada em 180º lugar).[4]

História da corrupção no Chade

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Durante o governo de Tombalbaye

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François Tombalbaye foi o primeiro presidente do Chade. Seu regime foi descrito como marcado pelo autoritarismo, corrupção extrema e favoritismo.[5][6] A corrupção, na forma de abuso na arrecadação de impostos, foi uma das principais causas do Levantamento de Mubi, uma série de revoltas que iniciaram a Guerra Civil do Chade (1965–1979).[7]

Durante a era Déby

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Idriss Déby, presidente de 1990 até sua morte em 2021,[8] foi acusado de clientelismo e tribalismo.[9] Líderes da oposição chadiana e a Human Rights Watch acusaram Déby de fraude eleitoral em várias eleições, nas quais ele e seu partido venceram com ampla vantagem.[10] Em 2005, o Chade foi classificado como o país mais corrupto do mundo (empatado com Bangladesh).[11]

Corrupção nas instituições governamentais

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No sistema judiciário

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De acordo com o Country Reports on Human Rights Practices do Departamento de Estado dos Estados Unidos, o sistema judiciário do Chade é fortemente influenciado pelo governo, permitindo que funcionários públicos usufruam de impunidade. Juízes que tentam manter a independência judicial enfrentam assédio e, em alguns casos, demissão.[12] Empresas relataram que frequentemente pagam suborno para influenciar decisões judiciais.[13] A população civil tem baixa confiança no sistema judiciário do país e procura evitá-lo.[14]

Nas forças de segurança

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De acordo com o Country Reports on Human Rights Practices do Departamento de Estado dos Estados Unidos, a corrupção está amplamente presente tanto no exército quanto na polícia do Chade. As forças de segurança frequentemente praticam corrupção de baixo nível, violência e extorsão, que geralmente ficam impunes. Foram relatados vários casos em que a Polícia Judiciária deixou de cumprir ordens judiciais contra militares e membros de seu próprio grupo étnico.[12] Também há registros de policiais cometendo crimes nas ruas e realizando prisões ilegais, geralmente de turistas estrangeiros.[15]

Em 2013, foi realizada uma operação de repressão à corrupção na polícia. A ação revelou práticas ilegais de promoção e recrutamento, falta de treinamento adequado, favoritismo e outras atividades corruptas. Dois ministros foram demitidos após a operação.[15]

Nos serviços públicos

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A corrupção nos serviços públicos do Chade é caracterizada por nepotismo e suborno. O suborno é comum nesses serviços devido aos baixos salários dos funcionários públicos.[15] Obras públicas conduzidas pelo governo foram criticadas por organizações internacionais por falta de transparência e altos níveis de corrupção.[16]

No setor petrolífero

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O Chade tornou-se um produtor de petróleo em 2003. Para evitar a maldição dos recursos e a corrupção, foram elaborados planos detalhados patrocinados pelo Banco Mundial. Esse plano garantia transparência nos pagamentos, além de destinar 80% da receita das exportações de petróleo para cinco setores prioritários de desenvolvimento, sendo os dois mais importantes: educação e saúde. No entanto, o dinheiro começou a ser desviado para o setor militar antes mesmo do início da guerra civil. Em 2006, com a escalada do conflito, o Chade abandonou os planos econômicos anteriores patrocinados pelo Banco Mundial e adicionou a "segurança nacional" como um setor prioritário de desenvolvimento. Os recursos desse setor foram usados para fortalecer as forças armadas. Durante a guerra civil, mais de 600 milhões de dólares foram gastos na compra de caças, helicópteros de ataque e veículo blindado de transporte de pessoal.[17]

Em 2005, uma investigação revelou desperdícios de dinheiro, como a compra de computadores e impressoras por preços inflacionados e diversos projetos de construção pagos, mas nunca concluídos.[18] De acordo com a Extractive Industries Transparency Initiative, a falta de transparência nos projetos de infraestrutura financiados com recursos do setor petrolífero e a ausência de um sistema de registro para monitorar o fluxo de dinheiro representam um risco significativo de corrupção.[19]

Esforços anticorrupção

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O Chade possui um ministério dedicado ao combate à corrupção, chamado Ministério da Moralidade e Boa Governança. Em 2009, o ministério elaborou um plano estratégico para combater a corrupção, no mesmo ano em que foi iniciada uma investigação contra dez funcionários do governo, incluindo o então prefeito de N'Djamena e vários ministros do gabinete. As acusações contra eles foram arquivadas em 2010 por falta de provas.[15]

Em 2012, o governo chadiano lançou a Operação Cobra, com o objetivo de aumentar a transparência e demitir funcionários corruptos. Como resultado, 400 funcionários foram demitidos e, segundo o Ministério da Moralidade e Boa Governança, foram recuperados 25 bilhões de francos CFA (cerca de 38 milhões de euros).[20]

O Índice de Transformação Bertelsmann e o Departamento de Estado dos Estados Unidos descreveram os esforços anticorrupção do governo como politicamente motivados e utilizados como forma de eliminar a oposição política.[15]

A partir de 2014, protestos contra a corrupção e o autoritarismo do presidente Déby foram realizados em N'Djamena. Até 2020, os protestos não haviam obtido sucesso.[21]

Notas e referências

Notas

  1. Angola, Benim, Botsuana, Burkina Faso, Burundi, Camarões, Cabo Verde, República Centro-Africana, Chade, Comores, Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Djibuti, Guiné Equatorial, Eritreia, Essuatíni, Etiópia, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Quênia, Lesoto, República do Congo, Suazilândia, Libéria, Madagascar, Malaui, Mali, Mauritânia, Maurício, Namíbia, Níger, Nigéria, Ruanda, São Tomé e Príncipe, Senegal, Seicheles, Serra Leoa, Somália, África do Sul, Sudão do Sul, Sudão, Tanzânia, Togo, Uganda, Zâmbia e Zimbábue.

Referências

  1. «Chad Corruption Report». GAN Integrity (em inglês). 5 de novembro de 2020. Consultado em 26 de janeiro de 2021 
  2. «The ABCs of the CPI: How the Corruption Perceptions Index is calculated». Transparency.org (em inglês). 11 de fevereiro de 2025. Consultado em 15 de fevereiro de 2025 
  3. «CPI 2024 for Sub-Saharan Africa: Weak anti-corruption measures undermine climate action». Transparency.org (em inglês). Consultado em 13 de fevereiro de 2025 
  4. «Corruption Perceptions Index 2024: Chad». Transparency.org (em inglês). Consultado em 15 de fevereiro de 2025 
  5. Marielle, Debos (2016) [1st pub. 2013]. Living by the Gun in Chad. Combatants, Impunity and State Formation Revised, Updated, and Translated ed. London: Zed Books. ISBN 978-1-78360-532-3 
  6. Cooper, Tom; Grandolini, Albert (2015). Libyan Air Wars: Part 1: 1973–1985. Havertown: Helion and Company. ISBN 978-1-910777-51-0 
  7. Azevedo, Mario (1998). The Roots of Violence: A History of War in Chad. Charlotte: Gordon and Breach Publishers. p. 65. ISBN 0-203-98874-4 
  8. «Chad president assassinated by militants from North». EgyptToday. 20 de abril de 2021. Consultado em 31 de janeiro de 2023 
  9. «'Isolated' Deby clings to power» (em inglês). 13 de abril de 2006. Consultado em 26 de janeiro de 2021 
  10. World Report Book 2008. Human Rights Watch. <https://www.hrw.org/wr2k8/pdfs/wr2k8_web.pdf>
  11. «Worst corruption offenders named» (em inglês). 18 de outubro de 2005. Consultado em 26 de janeiro de 2021 
  12. a b «Country Reports on Human Rights Practices for 2015». 2009-2017.state.gov. Consultado em 26 de janeiro de 2021. Arquivado do original em 11 de maio de 2019 
  13. «Global Competitiveness Report 2015-2016». Global Competitiveness Report 2015-2016 (em inglês). Consultado em 26 de janeiro de 2021 
  14. «BTI 2020: Chad». BTI Blog (em inglês). Consultado em 26 de janeiro de 2021 
  15. a b c d e Hub, Knowledge (26 de janeiro de 2021). «Transparency International Knowledge Hub». Knowledge Hub (em inglês). Consultado em 26 de janeiro de 2021 
  16. «International Crisis Group Annual Report 2009 – World». ReliefWeb (em inglês). Março de 2009. Consultado em 26 de janeiro de 2021 
  17. Hicks, Celeste (2015). «Chad and the West: Shifting Security Burden?». Africa Policy Brief: 1–2 
  18. Polgreen, Lydia (11 de setembro de 2008). «Oil's curse holds true for World Bank pipeline in Chad (Published 2008)». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331. Consultado em 26 de janeiro de 2021 
  19. «EITI Progress Report 2014». Extractive Industries Transparency Initiative. 8 de julho de 2016. Consultado em 26 de janeiro de 2021 
  20. [1]
  21. «As Chad's Problems Mount, What Role for Civil Society?». Crisis Group (em inglês). 25 de maio de 2020. Consultado em 27 de janeiro de 2021