Golpe de Estado na Síria em dezembro de 1949
Golpe de Estado na Síria em dezembro de 1949 | |||
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![]() Adib Shishakli em 1951. | |||
Data | 19 de dezembro de 1949 | ||
Local | Síria | ||
Desfecho | Golpe de Estado bem-sucedido
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Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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O golpe de Estado na Síria em dezembro de 1949, também conhecido como Movimento dos Coronéis[1][2] foi um evento que ocorreu em 19 de dezembro de 1949, sendo considerado o terceiro golpe militar na história da Síria. O movimento foi liderado pelo coronel Adib Shishakli e resultou no fim da hegemonia de Sami al-Hinnawi na política síria, estabelecida em um golpe anterior em agosto.
Antecedentes
[editar | editar código fonte]Após o golpe de agosto de 1949, o novo líder Sami al-Hinnawi nomeou Hashim al-Atassi como primeiro-ministro. Durante as eleições parlamentares de 1949, o Partido Popular, de tendência pró-iraquiana, conquistou a maioria dos assentos, apoiando os esforços de Hinnawi para implementar o Plano do Crescente Fértil.[3]
Previamente ao golpe, Adib Shishakli contava com o apoio de Akram al-Hawrani, seu amigo pessoal e colega desde a guerra árabe-israelense de 1948.[4] A conspiração também recebeu o apoio do tenente Fadlallah Abu Mansour, que Shishakli encontrou em Qaboun, perto de Damasco, para discutir a ação.[5]
Golpe
[editar | editar código fonte]À frente da Primeira Brigada, Adib Shishakli lançou seu movimento anti-Iraque em 19 de dezembro, visando expulsar do poder a facção de Sami al-Hinnawi.[6] O golpe foi desencadeado pela decisão de Hinnawi de nomear o major Subhi Ibara como o novo comandante do batalhão blindado local.[7] Essa medida foi vista como um ultraje pelos conspiradores, pois o comandante anterior, Amin Abu Assaf, havia se juntado ao movimento de Shishakli.[1] Os conspiradores prontamente prenderam o novo comandante, e às 5h30, veículos blindados começaram a avançar sobre Damasco.[5]

As forças de Shishakli então tomaram controle de edifícios governamentais, um banco e uma estação de rádio. Os militares também cercaram a casa do presidente Hashim al-Atassi.[8] Após uma breve batalha, as forças de Shishakli conseguiram deter Hinnawi e vários oficiais associados ao regime.[6] As forças golpistas também visaram à prisão de outras figuras-chave associadas a Hinnawi, incluindo: Muhammad As'ad Talas, cunhado de Hinnawi, Mahmoud al-Rifa'i, diretor do Segundo Bureau, e Muhammad Ma'ruf, chefe da polícia militar.[7] No entanto, um deles, As'ad Tallas, conseguiu escapar do país com a ajuda de um ministro iraquiano.[6]
Após ser capturado, Sami al-Hinnawi foi transferido para a prisão de Mezzeh, onde permaneceu até setembro de 1950, quando foi libertado e exilado no Líbano. Pouco tempo depois, foi assassinado por Hersho al-Barazi, um parente do primeiro-ministro Muhsin al-Barazi, que havia sido executado por Hinnawi durante seu golpe militar em agosto.[9]
Em um comunicado transmitido pela Rádio Damasco, Shishakli denunciou as manobras do chefe do exército Sami al-Hinnawi e seu adjunto As'ad Talas, acusando-os de "conspirar contra o sistema republicano da Síria".[10] Shishakli anunciou que agiu para evitar uma união com o Iraque e preservar a independência da Síria.[3] Shishakli decidiu não remover o governo civil da Síria, mantendo o presidente e o primeiro-ministro em seus cargos.[4] Em contrapartida à presidência de Atassi, Shishakli criou o Conselho de Coronéis (mais tarde substituído pelo Conselho Militar Supremo), um órgão composto por oficiais militares que representavam minorias sírias, o que lhe permitiu exercer influência sobre a governança.[11]
Consequências
[editar | editar código fonte]O golpe de dezembro de 1949 inaugurou um período de governo dual na Síria, caracterizado por uma autoridade compartilhada entre o governo do presidente al-Atassi e o conselho militar dirigido pelo coronel Shishakli.[11] Apesar das tentativas e anúncios para restaurar a ordem constitucional, os 5 anos da administração de Shishakli foram marcados por instabilidade política. Entre 1950 e 1951, o parlamento sírio estabeleceu 7 coalizões governamentais, alternando entre as lideradas pelo Partido Nacional e as lideradas por seu rival, o Partido Popular. Além disso, Shishakli agiu rapidamente para impedir uma potencial união entre a Síria e o Iraque. Ele também reforçou os laços da Síria com a Arábia Saudita e o Egito, ao mesmo tempo em que se distanciava do Iraque.[3]
Em novembro de 1951, o presidente Hashim al-Atassi escolheu Maarouf al-Dawalibi para formar um governo. Anteriormente, Adib Shishakli havia imposto um domínio extraoficial, pelo qual os governos nomeavam um oficial militar como ministro da Defesa para manter a influência militar. No entanto, Dawalibi se opôs à influência dos oficiais e frequentemente os culpou pela situação do país. Depois de nomear um civil para o cargo, Shishakli realizou o golpe de Estado de 1951, no qual deteve o primeiro-ministro Dawalibi e forçou todo o governo a renunciar.[4]
Bibliografia
[editar | editar código fonte]- Moubayed, Sami M. (2006). Steel & Silk: Men and Women who Shaped Syria 1900-2000 (em inglês). [S.l.]: Cune Press. ISBN 9781885942401
- Seale, Patrick (1965). The Struggle for Syria — A Study of Post-War Arab Politics, 1945-1958 (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press
- Rathmell, Andrew (1995). Secret War in the Middle East: The Covert Struggle for Syria, 1949–1961 (em inglês). [S.l.]: Tauris Academic Studies. ISBN 1850439923
- Haddad, George Meri (1965). Revolutions and Military Rule in the Middle East Volume 2: The Arab States Part I: Iraq, Syria, Lebanon and Jordan (em inglês). [S.l.]: Robert Speller and Sons, Publishers. ISBN 978-0831500603
- Out of the Inferno? Rebuilding Security in Iraq, Libya, Syria, and Yemen (em inglês). [S.l.]: Arab Reform Initiative. 2017. ISBN 979-10-93214-05-4
Referências
- ↑ a b Ahmed Mamoun (11 de junho de 2023). «O Exército Sírio antes da unificação: Shishakli, Assad e o domínio das forças de ataque». SyriaTV (em árabe). Cópia arquivada em 9 de dezembro de 2024
- ↑ «O primeiro golpe de Adib Shishakli - o movimento dos coronéis de 1949». Syrian Modern History (em árabe). Cópia arquivada em 7 de novembro de 2024
- ↑ a b c Dostal, Jörg Michael. «Post-independence Syria and the Great Powers (1946-1958): How Western Power Politics Pushed the Country Toward the Soviet Union» (PDF). 2014 Annual Meeting of the Academic Council on the United Nations System (em inglês). Consultado em 11 de abril de 2025
- ↑ a b c Moubayed 2006, p. 247.
- ↑ a b Haddad 1965, p. 207.
- ↑ a b c Rathmell 1995, p. 58–59.
- ↑ a b Seale 1965, p. 85–86.
- ↑ «Syrian has 3rd coup in year». The Age (em inglês). 32231: 7. 20 de dezembro de 1949
- ↑ Moubayed 2006, p. 57.
- ↑ «O primeiro golpe de Estado de Adib Shishakli». damapedia.com (em árabe). Cópia arquivada em 10 de setembro de 2024
- ↑ a b Arab Reform Initiative 2017, p. 76.